A Lenda da Fonte Férrea | As Águas de Cambuquira

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A animação conta um pouco algumas lendas e histórias que se pode ouvir em qualquer conversa na cidade de Cambuquira, inclusive a da fonte férrea - que foi inspirada no texto escrito pela Thaís Pereira (abaixo). Como dito no vídeo, falamos apenas de algumas. Todas confirmadas pela credibilidade e certeza da memória oral! Quem tiver curiosidade, é só perguntar pra qualquer cambuquirense algum causo envolvendo a cidade e suas fontes...

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Texto de Thaís Pereira

Era uma vez um menino...

As águas nascidas nas fontes de Cambuquira carregam segredos. São histórias que passam de pai para filho e de filho para neto. De neto para o mundo, mesmo que ainda sejam segredos. Antigamente, um menino, de pés descalços e sonhos na cabeça, corria curioso por entre as fontes de águas minerais que guardavam os tesouros daquela estância.

De olhos estalados e ouvidos de pé, ficava atento às histórias que escutava. Era um colecionador, colecionava histórias. Um dia as contaria a quem se dispusesse ouvir. Eram histórias de damas e cavaleiros que vinham se tratar de doenças, bebendo das águas minerais que brotavam na cidade. Mas que água danada era aquela que tinha tanto poder? Perguntava-se o menino, sempre curioso.

E entre uma daquelas indagações, ele viu se aproximar da Fonte Férrea um estrangeiro. O menino escondeu-se bem ligeiro e começou a observar. De qual enfermidade o homem sofria? De algo sofria, pois sua face, sempre carrancuda, não o deixava se enganar. Não sabia dizer se era dor o que o homem sentia, ou se era a sua única expressão. Não se aproximava dos filhos, não sorria para os que por ali passavam. Todos os dias de manhãzinha o homem estrangeiro descia à fonte, mas nenhuma gota da fonte escorria, nenhum copo de água vinha da fonte milagrosa, que simplesmente parecia se negar à presença daquele velho senhor.

E todas as manhãs o menino permanecia atento, anotando tudo em um bloquinho, cada expressão e cada gesto. Até que um dia ouviu um estalo.

Um estalo seguido e outro estalo. Logo eram três estalos e quatro, cinco... nove estalos que ele não sabia de onde vinham. Aproximou e viu que finalmente a fonte parecia sorrir para o estrangeiro. Um sorriso surgiu em seu rosto como um espelho. O estrangeiro se tornou renovado como a fonte, que sugava todas as suas rugas como mágica, tirando todo o peso daquele coração tão enegrescido pelo peso dos anos.

Sim, um sorriso! Audacioso e alegre, como de um jovem. Ele havia se curado do mal que o atormentava há anos. Após a morte da esposa querida, assim era seu coração: petrificado pelo sofrimento, envolvido pela tristeza que o domou. Não ligava mais para os filhos, não tratava bem os empregados. Ouviu falar de uma cidade do sul de Minas, conhecida por suas águas minerais, onde uma delas seria capaz de derreter até o mais gelado coração, diziam as lendas. Quando seu coração finalmente havia se derretido, a fonte se abriu para ele, contando seus segredos mais belos e sinceros, com uma bela dama de ferro no raiar do sol, que é enfim a fonte de toda a vida.

E os olhos brilhavam olhando aquelas gotas cristalinas de vida e o menino anotou tudinho, cada impressão, perguntando-se se a lenda era verdadeira ou se era apenas a sensação de beber uma água tão diferenciada que o faria melhorar. A natureza gera sempre as melhores sensações da vida...

Quando o homem foi embora, com a mão no formato de concha, abaixou-se e apanhou um pouco daquela água encantada, bebeu e limpou a boca com a manga da camisa. “Amanhã eu volto”, ele prometeu e sabia que seria eternamente feliz.

— Conta outra história, vovó? — suplicou o menino, sem sono.

Antônia, mesmo depois de ter lido tantas vezes aquele bloquinho, abriu em mais um história. A história que passou de avó para filho, de filho para pai. De pai para neta. De neta para o mundo, mesmo que ainda seja segredo...

— Era uma vez um menino. Um menino e cinco fontes de águas minerais...

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Animação de referência

Her Morning Elegance - Oren Lavie

Mostra Audiovisual de Cambuquira

Site oficial da MOSCA - Mostra Audiovisual de Cambuquira, fundada em 2005 no Sul de Minas Gerais.

Produzida por Romã Produtora Cultural Ltda.

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